terça-feira, 26 de junho de 2007

Ficando Velho? Não. Ficando Melhor...

Tudo começou com o post de ontem do Marcos VP no seu delicioso Pirão Sem Dono. Está certo que já virei fã do blog, mas ontem ele me fez dar uma passada nas crises da minha vida. Não foram muitas, não. Não tive crise na infância, nem na adolescência. Quando entrei na fase adulta, também não senti nada. Aí me preparei para os 30 anos. Aí sim, virando 3.0, rolou uma crisezinha.
Perto de completar 30 anos, me vi no início do declínio. Sério, era isso que eu sentia. Eu estava casado havia pouco mais de um ano, mudando o meu esquema profissional e ainda não tinha filhos. Me sentia muito velho para todas essas coisas. Aos 33 tive um dos anos mais conturbados da minha vida, com direito a separação, crise existencial, crise profissional e outras coisas. Também nessa época comecei a namorar a minha futura segunda esposa e a reconstruir tudo o que havia deixado ruir. E passei muito tempo tentando corrigir os rumos da minha vida. Grande erro. A vida tem rumos próprios e nós, simplesmente, embarcamos neles ou não. Isso não interessa muito agora, mas acertei muito e errei muito. E fui chegando próximo aos 40.
Quando todos contavam com uma crise de 40 anos, devo dizer que estou muito bem. Minha vida virou de cabeça para baixo de novo (com direito a nova separação e novos rumos da vida profissional). Muitos problemas apareceram, mas muitas coisas boas apareceram também. Fiz 40 anos poucos meses depois da minha filha nascer e isso muda tudo. Ser pai aos 40 é muito bom. Você está mais sereno, mais confiante, mais paciente. A distância entre as idades serve para ressaltar a capacidade que um filho tem de fazer um pai mais jovem. Estou mais jovem, sou mais jovem. Outro dia fui identificado como "aquele tricolor grisalho que tem uma filha linda" e adorei. Adoro quem adora a minha filha (e ela é realmente linda). Mas adorei ser reconhecido como tricolor e, principalmente, grisalho. Os cabelos brancos são bons sinais. Não me sinto velho, me sinto melhor. Tenho me percebido mais interessante. Não é falta de humildade não, é uma constatação difícil de ser feita, mas é verdade. Estou mais interessante. Mais tranqüilo, mais seguro, mais charmoso, mais agradável, mais paciente, mais crítico, com humor mais refinado, mais vivido. Isso, vivido. Se há uma grande vantagem em ter 40 anos é ter vivido 40 anos. Olhando para trás, entre trancos e barrancos, entre coisas boas e ruins, vivi intensamente os meus 40 anos. E é exatamente isso que me faz melhor: a vida.
Diz o Marcos Antônio (um grande amigo meu do CAp) que ele foi o único da turma a ter coragem de assumir e comemorar os 40 anos. E foi mesmo (e a festa foi sensacional). Eu não tive coragem. Fiz aquele esqueminha manjadinho do para-quem-ligou-eu-avisei-que-estaria-no-barzinho-tal e fingi que comemorei. Foi bom, mas não foi comemoração. E não foi a comemoração que a idade merece. A Suelen (outra amigaça de CAp), já fez uma bela comemoração dos 41. Acho que vou pelo mesmo caminho e começarei desde já a planejar a festa dos meus 41 anos. Não pela data, mas pelo tempo percorrido e bem vivido. E também pela consciência de que estou melhor, muito melhor. Que venham mais anos e mais cabelos brancos, porque eu estou ficando bom demais!

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Para Julia, no Seu 1º Aniversário

Este texto foi escrito no dia 2, mas só estou publicando-o hoje.

Julia, parabéns! Você está completando um ano de vida, cheia de vida. Esses doze meses foram de descobertas e de ajustes. Os horários de sono mudaram (nada drasticamente, mas mudaram), os horários de alimentação mudaram (um pouco mais que os de sono) e os horários de lazer também mudaram (esses, bem drasticamente). E foram boas mudanças. Estou mais saudável por causa de você, muito obrigado.
Você está crescendo muito linda e risonha. Não perca isso. Isso de ser risonha (beleza é uma definição complicada e cada um tem a sua). Ria muito, ria de tudo. Dos desenhos, dos brinquedos, dos amigos, de mim, da vida. Ria. Não vale a pena a outra opção.
Você está crescendo curiosa, muito curiosa. Continue assim. Tenha curiosidade de tudo. Da vida, da natureza, da ciência, dos desenhos, dos brinquedos e até de mim. Mas não muito. Não valho tanto a pena assim. E cuidado para, por excesso de curiosidade, não virar fofoqueira. Não vale nada a pena.
Você está crescendo com muita independência. Vá em frente. Seja independente em casa, na escola, no mundo, na vida. Não fique presa ao que não interessa a você. Não vale a pena.
E você está crescendo muito amada. E vai ser sempre assim. Amada pelo pai, pela mãe, pelos avós, pelas bisas, pelas tias (corujésimas), pelos tios, pelos primos, pelos amigos, pela vida. Cultive todo esse amor. Ame para ser amada. De outro jeito, não vale a pena.
Em míseros 365 dias, me vi fazendo coisas que nunca me imaginei fazendo. Trocar fralda, por exemplo (principalmente as sujas de cocô). E os banhos (principalmente os primeiros, quando você ainda era muito pequena e molinha)? E dar comida? E fazer "boquinha de quem está comendo" para fazer você comer? Sempre achei essa careta ridícula e hoje sou o maior careteiro que conheço. A lista é grande e inclui pérolas como cantar a musiquinha dos Backyardigans ("Temos o mundo inteiro no nosso quintaaaal"), dormir num cantinho para você ter bastante espaço, carregar um monte de tralha só pela pura especulação da possível necessidade que você venha a ter, modelar um Nemo para o seu bolo de aniversário (e segundo o seu padrinho "até que nem ficou sofrível") e por aí vai.
Por falar em aniversário, foi ótimo. Muito alegre, cheio de amor para você. Modéstia a parte, o bolo, os doces e o pão de mel que fiz estavam ótimos. Farei muitos mais para você. Sua mãe estava linda, e ficava fácil saber porque me apaixonei por ela. Eu e ela não trocamos nenhuma palavra durante a festa, e ficava impossível saber porque nós nos casamos. Assim é a vida. Simples, mas com as suas complicações. E complicações a parte, assim foi a sua festa: simples e deliciosa. Você se divertiu muito e só foi dormir muito tarde.
Agora começa mais uma parte dessa sua história. Você já percebeu que cada vez mais vai alterando a vida de quem está a sua volta. E sempre para melhor. E continue assim. Sempre. De outro modo, não vale a pena. E seu pai estará sempre junto de você. Sempre mesmo. De outro modo, eu não valho a pena.
Parabéns.
Um beijo.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Nossa Língua Portinglesa

Mais um fim de semana com Julia. Mais um fim de semana de felicidade e teste do preparo físico. E estou melhorando. Nos dois.
Entre vários encantamentos, me encantei com a Julia dando um pouco de atenção à televisão. Ela já tem lá seus gostos e preferências no Discovery Kids. O que ela mais gosta mesmo é o Doki, o cachorro mascote do canal que aparece nos comerciais. Entre os programas, ela gosta de Pokoyo, Hi-5, Lazy Town, Barney e Backyardigans, nesta ordem. Ela não fica prestando atenção o tempo todo, mas dança muito nas músicas. Uma graça!
Com isso, tenho assistido com alguma freqüência esse canal. E comecei a ficar irritado com os nomes dos programas. Eu sei que o tema é batido neste país onde existem mais sales do que promoções. Onde todo desconto é off, entrega é delivery e por aí sempre foi. Mas num canal infantil! Tudo bem que Pokoyo e Barney sejam os nomes dos personagens, mas Lazy Town?! Hi-5 e Backyardigans poderiam ter outros nomes. Ainda tem coisas como Dragontales e Toddworld! Não tem a menor necessidade.
Passeando entre os canais, encontramos mais besteirinhas para fazer gênero. Lost precisa ter esse nome? E Grey's Anatomy? E Desperate Housewives? Antigamente, esses seriados ganhavam nomes nacionais e nunca deixaram de fazer sucesso. Tínhamos As Panteras, Jornada nas Estrelas, Túnel do Tempo, Terra de Gigantes e muitas outros programas de sucesso sem ter que ter nomes em inglês. A HBO traduz os títulos das suas séries e continua fazendo sucesso. E eu volto a me perguntar: precisamos dessas palavras todas em inglês o tempo todo? Temos uma língua tão bonita, com palavras tão belas, com um som tão musical e com um vocabulário muito mais extenso que o inglês. Só esses marketeiros de bosta que ainda não entenderam que Beverly Hills 90210 fez sucesso mesmo quando era Barrados no Baile! E tenho dito. E em português.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Dias Difíceis São Prenúncio de Alegria

Tenho tido dias muito difíceis. Muita coisa acontecendo e eu não conseguindo dar conta de tantos problemas e desafios. Estou tentando me reconstruir, me refazer de maneira mais legal. Mais legal para mim e para os outros. Mas sem querer ser super-homem. Não tenho que agradar ninguém, tenho que ser o que sou. Mas posso ser algo bem bom para todo mundo (e eu estou incluído aí). Tem sido muito difícil.
No meio dessa confusão toda, as alegrias estão brotando. Muita coisa se acertando e a vida começando a caminhar para frente. E se eu me propus a ser alguém melhor do vinha sendo, uma certeza se fez clara nessa minha caminhada: se você está cercado de boas pessoas, você melhora, vence e vê que toda e qualquer mudança é possível. E, nesse período, descobri as pessoas que me fazem melhor. Muitas ainda vão entrar no grupo. Algumas, que saíram, voltarão. Mas essas que me aceitaram no meu momento mais fraco, essas que me pagaram pelo braço e estão me fazendo levantar, essas pessoas nunca deixarão de ser especiais para mim.
Se o texto parece um pouco triste, um pouco para baixo, não pense assim. Os dias difíceis são prenúncios de alegria. E, olhando daqui, a alegria já está chegando.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

O Suave Cheiro da Saudade de Julia

Quem for separado e pai vai entender. Quem for separado e pai de criança bem pequena (menos de 2 anos) vai entender mais ainda. Mas quem for separado e pai de criança bem pequena, risonha, brincalhona e lindona vai se achar aqui.
Esse negócio de, numa separação, a criança ficar com a mãe é uma dor danada para o pai. Eu passo por isso. Fim de semana sim, fim de semana não, a Julia fica comigo. As semanas parecem que têm 12, 13 dias. Os dias parecem que têm 31, 32 horas. O tempo não passa, a coisa não anda. Os pensamentos ficam soltos. "O que ela já está fazendo que eu não estou sabendo? Já nasceram mais dentinhos? O cabelo cresceu? Tá coradinha?" E tome de ansiedade e prostração por não estar ao lado dela todos os dias. E o que mais eu sinto falta é o sorriso dela quando acorda. Julia faz o gênero simpaticona e acorda no maior bom humor. Acorda e não chora. Fica brincando e conversando com seus bonequinhos. Quando aparece alguém no quarto, ela solta um sorriso que garante o começo de um bom dia. E eu não tenho mais isso todo dia. Dói, dói muito.
No final de semana passado, ela ficou comigo. Foi mais ótimo ainda porque era Páscoa e fiquei com ela desde o final da tarde de quinta-feira. A farra foi para cansar maratonista, pois a Jujuba resolveu colocar em dia todas as brincadeiras com o pai e os avós. Quando ia dormir, estava exausta e caía feito uma pedra. A bem da verdade, 10 minutos depois nós fazíamos o mesmo, porque não está dando para agüentar o pique da menina. Mas a sensação era que todos dormiam com sorrisos nos lábios, tal era a felicidade que transbordava na casa. Ao acordar, o tradicional sorriso e começava toda a agitação. E tome gargalhada, engatinhada, passeios, brincadeiras, banhos e alimentação. Em algum momento uma sonequinha para descansar. Mais nós do que ela.
Mas aí chega domingo e vem a hora dela ir embora. Devolvo minha bonequinha para a mãe e volto para casa. Nesse momento, sinto que a casa está tomada pelo cheiro da Julia. Um cheiro suave mas marcante. E que só faz aumentar enquanto eu ando pelo apartamento. No meu quarto, então, ele é torturante. Me preparo para dormir e o delicioso cheiro inibe qualquer outro estímulo que eu possa ter. Só existe ele. Só existe ela, Julia. E essa fina fragrância me avisa que, para que eu tenha as mesmas alegrias desses poucos dias, faltam 2 semanas. E das grandes.
Confirmado: saudade tem cheiro.

quinta-feira, 8 de março de 2007

O Eclipse do Eclipse

Sábado tivemos o eclipse da Lua. Mas não foi um eclipse qualquer. Foi aquele que aprendemos na escola e que passamos a vida inteira esperando e, a cada evento, ou o céu está nublado, ou ele é melhor visualizado no hemisfério norte, ou é num horário que ninguém está acordado, ou a Terra só esconde uma nesguinha da Lua... Dessa vez não, foi um eclipse de cinema. Perfeito, demorado, num horário ótimo, com a Lua (que estava enorme no céu) ficando toda encoberta e ainda tinha aquele tom avermelhado para dar um charme. Foi um eclipse sensacional. Menos para mim.
Um eclipse daqueles é para casais apaixonados. Para se ficar admirando agarradinho à pessoa que se ama. Dando beijos e fazendo carícias. Pois é, o meu eclipse não teve nada disso. Eu estava longe, muito longe de quem eu gostaria que estivesse ao meu lado. Passei-o sozinho, curtindo o espetáculo e imaginando o que poderia ter sido se ela estivesse comigo. Não estava. E agora eu tenho que esperar mais não sei quantos anos para ter outra oportunidade desta.
Espero que você tenha tido melhor sorte do que eu. Que tenha curtido o eclipse com alguém especial e tenha aproveitado todo esse tempo para trocar amor. É, trocar, porque não existe amor de um só. Você manda amor para lá e recebe amor de volta. É que nem o eclipse. A Lua, sozinha, não faz o eclipse. Ela precisa do Sol e da Terra. Bom, pode parecer um ménage, mas não era nada disso que eu queria dizer. O importante é que os momentos especiais não são feitos sozinhos. E, no meu caso, no sábado, teve eclipse do meu eclipse.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

TEMPO, VELOCIDADE E ANSIEDADE

Outro dia passei por uma experiência muito interessante: ao me preparar para atravessar uma rua muito movimentada, vi, no outro lado, uma senhora muito idosa, toda curvadinha. Assim que o sinal fechou, ela começou a travessia e, pela velocidade que ia, concluí que não conseguiria atravessar no tempo do sinal fechado. Não só ela caminhava muito devagar (mas devagar mesmo!), como ia sorrindo e cumprimentando todos que passavam por ela. Um doce de velhinha, mas uma preocupação para mim. Ao olhar para os lados, reparei que outras pessoas também estavam nervosas com a situação. E a boa senhora num nem-te-ligo de dar inveja. Ela continuava com o caminhar calmo-quase-parando e com a simpatia lá em cima. O sorriso não saía dos seus lábios, com a cabeça fazendo um certo esforço para vencer os ombros curvados, e dava bom dia a todos que passavam por ela. E o sinal já piscando. E ela no passo dela, sem acelerar (nem sei se era possível). E o sinal piscando. E ela caminhado. E um ônibus já fazendo barulho com o motor como quem diz "vou arrancar". E ela chegou na calçada no exato momento em que o sinal abriu. E todos nós que ficamos preocupados não conseguimos atravessar...
Tendo chegado à calçada, a velhinha foi abordada por um guarda municipal que demonstrou a sua preocupação por ela. "Não se preocupe comigo", disse a simpática senhora, "se preocupe com você. Eu já sei controlar o meu tempo e faço as coisas na minha velocidade. Vocês, jovens, correm demais para fazer as coisas que poderiam ser feitas mais calmamente. E com mais prazer".
Taí, perdi mais um sinal porque fiquei encantado com as palavras desta sábia senhora. Corremos de um lado para o outro, fazemos mil coisas e estamos sempre com coisas a fazer. Não curtimos a maior parte do nosso dia porque estamos na correria. E ela ali, prazeirosamente cumprimentado pessoas que nem conhece, andando no seu passinho devagar-devagarinho e curtindo a vida. Me dei conta que só é ansioso que tem tempo e velocidade para ser. Quem não tem, sabe que a vida dá um jeito das coisas serem feitas.
E voltei para casa bem devagarinho para curtir cada detalhe do caminho de volta.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

O QUE EU QUERIA TER ESCRITO NO DIA DO SEU NASCIMENTO




Julia, quando você nasceu, eu queria ter escrito alguma coisa para dar-lhe boas vindas. Não consegui. Faltou confiança, coragem ou mesmo força de vontade. Talvez não tenha sido nada disso e eu simplesmente fui tomado de uma embriaguez contagiante que a sua presença provocou. Não tinha olhos para mais nada, apenas para você e sua mãe, as responsáveis pelo meu estado catatônico de felicidade. Tentar explicar isso agora é inútil, pelo simples fato de ser inexplicável a emoção que tomou conta de mim naquele dia. Vamos para as boas vindas, então.

Julia, seja bem vinda. Bem vinda a este mundo cheio de problemas. A uma sociedade estressada, competitiva e violenta. A uma família cheia de problemas, como qualquer família é. E que isso não seja desmotivador. Que isso seja o que dê prazer a sua vida. Porque você veio com o poder de mudar isso tudo. Com o poder de transformar o errado em certo, mas só no dia em que você descobrir o que é realmente (e definitivamente) certo e errado. Enquanto isso, use o seu poder para apaziguar os que se acham certos diante daqueles que também se acham certos. Para evitar que os donos da verdade esnobem, humilhem e oprimam aqueles que não pensam como eles. E para fazer com que as diferenças convivam em paz.

Que você cresça saudável, seja lá o que isso signifique. Que você tenha uma boa educação, seja lá o que isso signifique. Que você tenha cultura, seja lá o que isso signifique. Que você tenha uma boa formação, seja lá o que isso signifique. Que você tenha bons modos, seja lá o que isso signifique mesmo!

Logo, logo, você vai reparar que as pessoas são repetitivas. Enquanto você for pequena quase todos apertarão suas bochechas, darão beijos estalados, ficarão dizendo “dá tchau, dá” e “nossa, como ela cresceu”. Mais um pouquinho e as frases serão “você se lembra de mim?”, “ih, tá com vergonha”, “fala com a tia” e “e aí, já tem namorado?”. Depois vêm as fases das comparações: sobre o colégio, sobre o corpo, sobre o comportamento e o temperamento. Em seguida, as cobranças. E aí você terá emburrecido e se tornado neurótica o suficiente para ser chamada de adulta. Pelas convenções, você estará, então, preparada para vida e aí você vai colaborar para o aprimoramento do cenário que descrevi para você no início do segundo parágrafo.

Com um pouco de sorte... quer dizer... pouco vai ser pouco... com muita sorte você escapará das convenções e poderá ser feliz sem amarras, sem falsidade, sem restrições. Algumas pessoas vão dizer que isso é utópico, que o mundo exige que você seja competitiva, agressiva. Dê uma banana para essa turma e vá viver a sua vida. Não busque a felicidade, busque viver. A felicidade vem no caminho.

Erre bastante. Só assim você aprenderá de verdade. Dance bastante, discuta bastante, estude bastante, divirta-se bastante, namore bastante (mas não na minha frente), caminhe bastante, mude bastante e coma moderadamente. Só assim você viverá de verdade. Aproveite a experiência dos outros para saber o que não fazer. O que fazer, só você saberá. E por si só.

Quanto a mim, já está feito. De uma hora para outra virei uma nova pessoa. Virei pai. Na verdade virei vários pais diferentes nos últimos meses. Me senti pai quando a sua mãe me disse que estava grávida. Me senti mais pai no dia da primeira ultra-sonografia, principalmente quando ouvi o seu batimento cardíaco. No dia da tal da ultra 3D, aí sim, quando vi o seu rosto, senti o que era ser pai. Mas ao ouvir o seu primeiro choro, ao ver você pela primeira vez, ao segurá-la para levá-la ao berçário, ops, naquele momento, olhando você de olhinhos fechados e fazendo biquinho, me tornei pai. A partir daí, não importa o que eu seja, sou seu pai, o pai da Julia. E você não imagina como isso é importante para mim. E imagina menos ainda como isso será cada vez mais importante para mim. Porque certas coisas só aumentam.

Um dia você vai passar pela mesma situação e vai me compreender. Mas aí será pior, porque eu terei me tornado avô, mas isso já é outra história.

Julia, seja bem vinda, seja amada, seja feliz. Seja você. E seja o que Deus quiser, porque Ele há de abençoar cada dia de sua vida, assim como Ele abençoou a minha no dia em que você nasceu.

Muitos beijos,

seu pai