Outro dia passei por uma experiência muito interessante: ao me preparar para atravessar uma rua muito movimentada, vi, no outro lado, uma senhora muito idosa, toda curvadinha. Assim que o sinal fechou, ela começou a travessia e, pela velocidade que ia, concluí que não conseguiria atravessar no tempo do sinal fechado. Não só ela caminhava muito devagar (mas devagar mesmo!), como ia sorrindo e cumprimentando todos que passavam por ela. Um doce de velhinha, mas uma preocupação para mim. Ao olhar para os lados, reparei que outras pessoas também estavam nervosas com a situação. E a boa senhora num nem-te-ligo de dar inveja. Ela continuava com o caminhar calmo-quase-parando e com a simpatia lá em cima. O sorriso não saía dos seus lábios, com a cabeça fazendo um certo esforço para vencer os ombros curvados, e dava bom dia a todos que passavam por ela. E o sinal já piscando. E ela no passo dela, sem acelerar (nem sei se era possível). E o sinal piscando. E ela caminhado. E um ônibus já fazendo barulho com o motor como quem diz "vou arrancar". E ela chegou na calçada no exato momento em que o sinal abriu. E todos nós que ficamos preocupados não conseguimos atravessar...
Tendo chegado à calçada, a velhinha foi abordada por um guarda municipal que demonstrou a sua preocupação por ela. "Não se preocupe comigo", disse a simpática senhora, "se preocupe com você. Eu já sei controlar o meu tempo e faço as coisas na minha velocidade. Vocês, jovens, correm demais para fazer as coisas que poderiam ser feitas mais calmamente. E com mais prazer".
Taí, perdi mais um sinal porque fiquei encantado com as palavras desta sábia senhora. Corremos de um lado para o outro, fazemos mil coisas e estamos sempre com coisas a fazer. Não curtimos a maior parte do nosso dia porque estamos na correria. E ela ali, prazeirosamente cumprimentado pessoas que nem conhece, andando no seu passinho devagar-devagarinho e curtindo a vida. Me dei conta que só é ansioso que tem tempo e velocidade para ser. Quem não tem, sabe que a vida dá um jeito das coisas serem feitas.
E voltei para casa bem devagarinho para curtir cada detalhe do caminho de volta.
terça-feira, 27 de fevereiro de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Oi querido,adorei a estória! rsrs
Mas é a mais pura verdade:vivemos numa correria constante,num ritmo tão acelerado q acabamos nos acostumando a ele sem nos darmos conta,e acabo fazendo as coisas com pressa mesmo sem precisar! Tenho q ler um texto desse tipo tds os dias pra não esquecer de "tentar" relaxar!
Um beijo,Jussara.
é amigo... é isso mesmo... temos que ter menos pressa de viver e curtir mais a vida que temos. Hoje tomei essa decisão e decidi que não há dinheiro no mundo que compre o meu bem estar e minha alegria de viver. Volto ao mundo dos autônomos em 30 dias e passo a ser, com certeza, mais feliz!
Postar um comentário